
Até quando alimentaremos a ideia de que encontraremos uma verdade pronta e acabada? Pior ainda, esperando que alguém traga essa verdade definitiva para acomodarmos nossa mente nela. Será que é por isso que muitos precisam de um guru, pois não encontram dentro de si essa certeza e pensam que encontrarão no outro?
O que a vida vivida mostra é que não temos como encontrar essas garantias que tanto buscamos. A vida é um movimento contínuo e uma contínua transformação. O próprio equilíbrio existe devido ao ajuste constante em tempo real. E, sendo assim, de onde vem essa esperança quase coletiva de que nessa vida entraremos num estado de estabilidade total e nesse momento tudo se congelará, do jeito que acho que deve ser.
Segundo Ortega y Gasset isso está na estrutura do pensamento ocidental: “Os gregos sempre se assombravam com o movimento; experimentavam vertigem com a permanente instabilidade e variação das coisas. Em última análise, esconjuravam o movimento. Aristóteles procurava nas coisas, sempre mutantes, aquilo que não varia, o que permanece fixo no movimento…”
“Desde a Grécia, portanto, a razão se apresenta como a captação do real, na modalidade de ser fixo e estável, dotado de essências eternas, absolutas. A razão só permite manipular imobilidades, conceitos, números , figuras geométricas e o mundo físico enquanto revestido da mesma quietude.”
Ortega chama a atenção para renunciarmos alegremente, corajosamente, à comodidade de presumir que o real é lógico e reconheçamos que o único lógico é o pensamento. A razão pura, instrumento excelente para conhecer a natureza, os entes dotados de ser fixo e invariável, revela-se inadequada para captar a realidade ondulante e temporal da vida humana. Porque o homem não tem natureza*¹ ele tem história. Não é seu corpo, nem sua alma, e sim o que ele faz com eles.
*¹ natureza; physis dimensão constante. O princípio invariável das variações.