
O cérebro é extremamente fóbico. Seu maior medo é o fim de si próprio ou qualquer estado de consciência que pareça aproximar-se da ausência de individualidade que possa ser experimentada como sendo o fim de sua existência.
Ele repele estados tais como o de meditação profunda, diz “você está me matando” quando o riso incontrolável nos faz perder toda a consciência de nós mesmos, e só tolera breves orgasmos descritos como “minimorte” por alguns escritores românticos que se deixaram arrebatar pelo êxtase sexual.
O cérebro teme a dificuldade cognitiva. Busca input incessantemente e nutre-se de estímulos novos, diferentes e intensos. Para o cérebro, notícias velhas não são notícias. Como uma criança que acorda de um pesadelo noturno, ele frequentemente nos faz voltar, com um solavanco, de um devaneio breve e tranqüilo à sua forma de realidade. Ele repele a beleza que desvia sua atenção da autopreservação. Seu valor principal é o “bem estar” não a pompa, o ato de avançar rumo a um objetivo e não o ato de ser, e o empenho e não a graciosidade.
O cérebro é autodefensivo e territorial. Seu código é “eu, mim, meu”. Naturalmente pessimista, o cérebro evoluiu programado para esperar e prever o pior como forma de autodefesa contra ameaças externas herdadas da necessária vigilância constante de nossos ancestrais primitivos.
A energia que atrai o cérebro e também dele provém parece ser uma energia um tanto sombria, mais negativa e disposta à luta do que a do coração. Visto que tendemos a ser tão centralizados no cérebro e impelidos pela busca constante deste no encalço do negativo, fitamos estupidamente um acidente automobilístico, corremos para presenciar um desastre que está acontecendo e somos atraídos por espetáculos de televisão que mostram crises da “vida real”.
Nosso cérebro parece buscar o pesaroso e o terrível, muito embora isso possa “partir-nos o coração”. Conquanto o cérebro possa achar a mesmice enfadonha e a previsibilidade estulta, o coração está constantemente de olho nos prazeres mais simples da vida.
Paul Pearsall