
No texto de hoje, Salzmann, joga luz sobre uma questão: A informação que levo para dentro da mente é um auxílio ou obstáculo para o aprofundamento em meu ser?
A avidez por mais informação e atividades sem a parada para perceber as outras partes do meu ser que não seja a conversa interior não seria um bloco de tropeço disfarçado de degrau para o autoconhecimento? Não estaria fazendo o mesmo que ocorre na maioria dos nossos rios, acúmulo de detritos no leito gerando assoreamento o que reduz a profundidade impedindo a manifestação da vida sustentável? Devemos tomar cuidado. Um espelho d’água sem profundidade não se adapta nem a muita chuva nem a muito sol. Dê uma chance de experimentar algo a mais do que a sua própria mente.
“Durante milhares de anos o cérebro humano tem sido condicionado para agir do centro para a periferia e da periferia para o centro por um movimento contínuo, saindo e retornando. Como poderia esse movimento alguma vez parar? Se ele cessar, uma energia irá aparecer que é sem limite, sem causa, sem início ou fim. Para chegar a isto é necessário inicialmente criar uma ordem – limpar a casa – uma tarefa que requer uma atenção completa. O corpo deve tornar-se muito sensível e a mente completamente vazia, sem qualquer desejo. A compreensão vem não por um esforço de adquirir ou vir a ser, mas somente quando a mente está quieta.
A nossa verdadeira natureza, algo desconhecido que não pode ser nomeado porque não tem forma, pode ser sentida no intervalo entre dois pensamentos ou duas percepções. Esses instantes de parada constituem uma abertura para uma Presença que é sem fim, eterna. Comumente não podemos acreditar nisso porque pensamos que qualquer coisa sem forma não é real. Então deixamos passar a possibilidade de experienciar o Ser.
O nosso medo de não ser nada é o que nos impulsiona para preencher o vazio, para querer adquirir ou vir a ser. E esse medo, consciente ou não, nos leva à destruição de nossa possibilidade de ser.”
Jeanne de Salzmann (Livro: A Realidade do Ser)