
A frase remete à ideia de um excesso que não se sustenta. Todo excesso é perverso porque conduz aos desequilíbrios e ao esgotamento da energia de uma pessoa, e este é o sentido do verso: em algum momento do processo vital, o desequilíbrio provocado pelo excesso irá desencadear uma perversão que modificará ou destruirá a estrutura daquele organismo.
Este raciocínio pode ser aplicado à capacidade de assimilação que existe na mente ou, simbolicamente, no coração do ser humano. Quem cultiva ou se apega a conceitos, ideologias e sentimentos, perde a capacidade de assimilar informações que estejam fora dos padrões dos seus conhecimentos porque o seu interior já se encontra abarrotado de juízos e preconceitos; mas quem pratica a meditação do silêncio e aprende a se desapegar dos excessos, adquire um coração que passa a ter a capacidade de se expandir para receber todas as manifestações que contempla, e em seguida, se contrair para processar e selecionar as novas informações, assimilando sua essência e descartando o que não é essência. Com isso, nesse coração haverá sempre um lugar reservado para acomodar todo o conhecimento que o mundo lhe oferece, sem jamais se tornar cheio.
Este é o coração abrangente, receptivo a tudo que vê e ouve, sem bloqueios, fronteiras ou conflitos, mas suficientemente sábio para não reter em seu interior informações supérfluas como o orgulho e a arrogância, por exemplo, que são excessivas e, portanto, desnecessárias. Assim, ele jamais se tornará cheio, refratário ao conhecimento novo porque preserva no seu interior um constante espaço vazio, destinado a receber todas as solicitações do mundo que cruzem pelo seu destino, sem sentir necessidade de rejeitar o que não lhe agrada. Quem mantém o coração cheio precisa, portanto, aprender a usar a prerrogativa do coração que se apoia na prática do desapego, para se tornar capaz de descartar excessos, conservando-se íntegro até o fim da sua jornada.
Comentado por Wu Jyh Cherng